sábado, 19 de maio de 2012

Entrevista: 2ª e Parte Final.


Entrevista 2ª Parte

Bom dia amores!!
Hoje, olhando o blog, percebi que não postei a 2ª e a 3ª partes da minha entrevista ao meu amigão Mirgon Naise. Lá vão elas... Desculpem! Esqueci completamente!! Mais uma Vez agradeço ao Mirgon pela oportunidade. Amei!!

Bjoss



Mônica Moura


Mirgon - Que agressão foi essa que sofrestes no Facebook?

Mônica - Aconteceu no sábado pela madrugada. Foi um cara que disse "continua assim. isso é felicidade: comprar roupa, beber, fumar, festa todo dia com a galera. Parabéns, papai ta orgulhoso". E disse sem nem me conhecer, como se fosse uma regra, como se toda prostituta obrigatoriamente tivesse este tipo de atitude.
Ele é o tipo de gente que sequer considera a possibilidade de que eu possa gostar de ler, escrever, curtir a minha casa,a minha paz. A cultura da futilidade me cansa. Eu sou até quietinha, fumo, odeio barulho e gente fingindo felicidade. Dispenso. No entanto, não vejo em mim o direito de agredir os festeiros. Depois ele ainda continuou: "tu não é ser humano. tu é um objeto. meus parabéns. sou teu fã. quanto que tá a hora?". Um cara desses destila ódio e ignorância, não sabe a diferença entre "A capital" e "O capital". Mas é um ignorante que incentiva outros ignorantes iguais a ele. E ignorância com ódio preconceituoso pode ser muito perigosa. Agora, como é fácil agredir ao que lhe parece mais fraco. Ainda mais acobertado pela segurança que lhe dá o anonimato virtual. Eu, ainda que meu nome seja 'artístico', estou ao alcance de um telefonema, minhas fotos mostram meu rosto. Ele, nem imagino quem seja...


Mirgon - É possível alterar esse quadro? É possível reduzir ou até mesmo pensar na hipótese de virtualmente acabar com o assédio moral, a violência física e o preconceito enfrentado pelas prostitutas?

Mônica - Alterar este quadro... Olha, Mirgon: É possível, mas a longo prazo. Civilidade e conduta respeitosa não são coisas que nascem nas pessoas de um dia pro outro, são passadas de geração a geração, é uma questão cultural. Num primeiro momento, a única coisa que barra o preconceito é a repressão. Eu sou contra a repressão. No entanto, há sites onde se dissemina ódio e preconceito de forma violenta, e isso deveria ser tratado como crime de Internet, como são tratados temas referentes a atitudes discriminatórias em geral.


Mirgon - Tu já sofrestes algum outro tipo de violência atuando como prostituta?

Mônica - Exceto por estas atitudes das quais te falo, puramente virtuais, até o presente momento, não. Espero não vir a sofrer, mesmo com minhas declarações polêmicas que sempre podem incomodar alguém. Entretanto, apesar de ter a sorte de nunca ter sofrido nenhum tipo de violência física, isso acontece muito, até por conta desse preconceito moralista que as pessoas tem com relação às prostitutas e que faz com que sejamos vistas, como disseram no Face, como se não fôssemos gente, fôssemos objetos. E objeto a gente pode quebrar à vontade, não? É nesse ponto que considero perigoso o preconceito explicitado de forma tão clara e incisiva no mundo virtual. Considero uma potencial e perigora incitação à violência real e física contra as acompanhantes.


Mirgon - Uma outra acompanhante, Mikaella*, teve sua vida interrompida aos 29 anos, assassinada pelo ex-marido. Vocês tiveram uma relação de amizade bastante intensa, tu conheceste e acompanhastes de perto a sua vida. Como foram os anos desse casamento? Havia histórico de violência na relação deles?
*Nome Fictício

Mônica - Bom, Mirgon, não creio ser relevante o fato de ela atuar como acompanhante. Fosse ela costureira ou advogada, isso não a teria protegido, basta consultarmos os números da violência contra a mulher para sabermos que ela está presente em todas as classes sociais. Aliás, quando nos conhecemos, nenhuma das duas atuava como acompanhante. Tivemos, sim, uma relação de amizade bastante intensa e sincera, Mikaella era uma grande parceira, foram anos de convívio interrompidos de uma hora para outra, de uma maneira brutal e traumatizante, na frente do filho pequeno. É ainda um assunto complicado para mim, mas vamos lá, havia histórico de violencia, sim. Creio que dificilmente alguém se torna violento do dia para a noite, de surpresa. Ainda assim, formavam uma bela família, os dois e o filho.


Mirgon - Ela alguma vez o denunciou ou tomou algum tipo de providência para que a violência parasse?

Mônica - O denunciou mas não levou o processo adiante. É complicado, jamais pensamos que ele fosse chegar a este ponto. Denunciar é complicado, a maioria das mulheres em situação de violência ainda é insegura quando se trata de denunciar. Ou por temer represálias, ou por não desejar o mal de alguém com quem conviveu por muito tempo, e com quem muitas vezes tem filhos. Então deixa-se passar. Felizmente nem todas acabam mortas, mas a vida em situação de violencia é algo realmente degradante,  para a mulher, filhos e mesmo para o agressor.


Mirgon - O assassinato foi mais uma agressão que resultou em morte ou houve a decisão definitiva de assassiná-la? O assassino chegou a ser julgado e condenado?


Mônica - Houve a decisão de assassiná-la, dias antes, inclusive com ameaças claras. Não tivemos tempo de recorrer à justiça, certamente também por ela ñ ter acreditado nas ameaças. Sugeri uma medida cautelar, mas era tarde. Ele cumpriu 27 dias de prisão, depois disso respondeu ao processo em liberdade. Não sei, realmente, se foi condenado. Cerca de três meses depois o encontrei trabalhando em um bom restaurante da cidade. Foi constrangedor. Eu tenho certeza de que ele se arrependeu, e tenho certeza de que eram bem melhores os tempos em que podia me olhar nos olhos sem a vergonha de ter me tirado alguém que foi muito importante na minha vida e, com certeza absoluta, na vida dele. Obviamente, ele tem o direito, e até o dever, de procurar reconstruir a vida, apesar do que fez. O que me pergunto é se não existe, ou não deveria existir, por parte dos órgãos responsáveis, uma política no sentido de não simplesmente punir o  agressor, mas encaminhar a um tratamento. Alguma medida educativa, psiquiátrica, algo que pudesse evitar tantas mortes e sofrimento.


Mirgon - Na tua opinião, a Mikaella poderia estar viva agora caso tivesse tido coragem para denunciar a situação a que estava submetida?

Mônica - Poderia, sim. Mas poderia estar viva apenas se as coisas pudessem ser como falei acima. A simples punição não resolve as coisas. É preciso atuar no sentido do entendimento e da conciliação. A punição é, sim, necessária e bem vinda. Mas sozinha me parece ineficaz em muitos casos. Não existe prisão perpétua, e o receio de represálias ao final da pena imobiliza muitas mulheres na hora de denunciar. talvez ela tivesse denunciado e sido morta assim que ele estivesse livre, como vemos toda hora nos noticiários. Além do mais, estamos falando de famílias... Somente punição talvez não tivesse salvo minha amiga.


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