sexta-feira, 23 de março de 2012

Entrevista 1ª Parte

Mirgon Naiser, amigo, blogueiro, tuiteiro, há algumas semanas me pediu para falar um pouco sobre a violência sofrida pelas acompanhantes sexuais. Confesso que fiquei bastante receosa acerca desta conversa: a curiosidade sobre o que alguns chamam de ‘nosso mundo’ me incomoda bastante. Afinal de contas, não vivemos num ‘mundo à parte’, e é obviamente preconceituosa e ridícula esta idéia. Bom... Fui em frente. Gostei do resultado: Mirgon abordou o assunto de um modo que me deixou bastante à vontade, a conversa foi franca, abordamos assuntos polêmicos. Falei um pouco sobre minha vida, minha visão das coisas, violência doméstica, assédio moral. Essa conversa toda virou uma entrevista, um pouco extensa por isso vou postar em 3 partes ok amores??
Bjoss

Mônica Moura


Lá vai:

Mirgon - A prostituição é um tema bastante polêmico entre feministas e ativistas dos direitos humanos. Alguns defendem que a prostituição é sempre uma violência contra a mulher. Outros afirmam que só existe violência quando a mulher é obrigada a se prostituir, seja por exploração de alguém, seja pela sua conjuntura de vida, sem outras opções para subsistir, mas que havendo outras opções de vida, sendo feita uma opção consciente pela prostituição, não há que se falar em violência, pois a mulher possui todos os direitos sobre seu corpo, inclusive o de utiliza-lo sexualmente como meio de vida, não sendo possível, portanto, algo ser ao mesmo tempo violência e realização. Como acompanhante, qual a tua opinião sobre esse debate?

Mônica - Então, Mirgon… Não consigo conceber uma escolha consciente de uma pessoa adulta, como uma violência. Não falo da prostituição infantil e de outras situações degradantes. É certo que a prostituição pode assumir uma forma degradante - e como pode – mas podemos mesmo dizer que não é degradante a situação das empregadas domésticas e outras mulheres trabalhadoras? A opção pela prostituição é, na minha visão, cada vez mais uma escolha adulta e consciente. Os níveis de desemprego no país vêm diminuindo nos últimos anos, mas não vejo o mesmo acontecer com o número de mulheres que fazem a opção pela prostituição. Não vejo menos mulheres entrando nesse mundo do que eu via há alguns anos atrás.

Mirgon - A mulher é vítima constante de todo tipo de assédio moral, uma das formas mais bárbaras de violência, muitas vezes esquecida e subestimada, em vista de seus efeitos invisíveis - ao contrário da violência física. De que forma esse tipo de violência atinge as acompanhantes?


Monique Prada - Atinge através do preconceito explicitado de forma livre no dia a dia, em conversas de mesa de bar, de comadres ou mesmo, e talvez principalmente, no âmbito da Internet, onde o anonimato nos protege e nos permite abrir mão do politicamente correto com maior facilidade e externar nossos verdadeiros pensamentos.
Se explicita em piadas, se explicita em ataques diretos individuais (como aconteceu neste final de semana, quando sofri meu primeiro ataque no Facebook) e se explicita de forma perigosamente incitadora à violência, até mesmo física, em alguns foruns e grupos de discussões sobre o assunto. Nestes espaços, onde se deveria estar avaliando apenas e principalmente a qualidade de uma prestação de serviços, ao invés disso, se avalia personalidades, se expõe a vida pessoal, se expõe o preconceito vivo nas mentes urbanas médias. Há tópicos extremamente preconceituosos e agressivos que, mesmo em uma sociedade que nos condena ao ostracismo voluntário e à vergonha de nossa profissão, coisas desta natureza causam repulsa. Já fiz o teste, mostrando a amigas moralistas que nem sonham que participo deste mundo.
Entendo como um crime de Internet permitir que se incentive com tamanha desfaçatez e liberdade o preconceito, o ódio de classes e a discriminação, não só às prostitutas, mas como a menores sem chance de defesa (os chamados ‘filhos das putas’* Alguém em sã consciência tem a capacidade de admitir que sejam discriminados assim, às claras? Esquecem que tratam-se de crianças? Em que sentido os filhos dos clientes de putas são diferentes dos filhos das putas?!?!?). Ora, isso não é admissível em uma sociedade que se diz avançar cada vez mais em direção ao respeito dos cidadãos. É inadmíssível que este tipo de conteúdo continue no ar sem nenhuma supervisão por parte dos órgãos responsáveis.
**Aqui, me refiro especificamente a um tópico de fórum de discussão intitulado: “Você já viu um filho da puta?”



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